Tem um montão de rituais do vinho que a gente faz sem nem saber porque.
Faz porque viu alguém fazendo, faz porque achou bonito no Instagram, faz porque sim…
No vinho, no entanto, alguns rituais são importantes e outros apenas costumes que não interferem muito na sua apreciação efetiva do produto.
Selecionei alguns rituais do vinho para falar com vocês hoje:
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Cheirar a Rolha:
Geralmente, quando o sommelier ou garçom abrem o vinho no restaurante, antes de efetuar o serviço, ele lhe entrega a rolha para sua análise. Automaticamente a levamos próxima ao nariz e, na maioria das vezes, autorizamos o serviço do vinho. Mas você sabe a razão para esse ritual ainda tão utilizado?
A cortiça, material utilizado para a maioria dos vedantes de vinho desde séculos atrás, é um material orgânico, extraído de uma árvore e de textura porosa. Como fica em ambiente úmido – contato com o vinho e também em guarda em adegas com umidade alta – está sujeita a ataques de fungos e bactérias que podem ou não serem perigosos aos vinhos.
O mais conhecido e problemático é o TCA – 2,4,6-Tricloroanisol, que causa um odor que lembra mofo, poeira, papelão molhado e ofusca os aromas do vinho em si. Esse ataque deixa o vinho bouchonné, como dizem os franceses, ou seja, com cheiro de rolha.
Este problema era muito mais comum em tempos remotos, mas o avanço tecnológico na proteção dos vedantes à base de cortiça, bem como as melhores práticas nas adegas levaram a um número ínfimo de casos. O ritual de cheirar a rolha para encontrar o tal bouchonné, no entanto, permanece. Mal não faz, mas é importante lembrar que esse não é o único problema que um vinho pode ter e, também, que só pela análise da rolha não se deve eliminar uma garrafa.
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Agitar a Taça:
O girar o vinho em taça é um outro ritual bonito e que tem uma razão de ser. Primeiro, vamos recapitular o processo de degustação: Visual, Olfativo e Gustativo são essenciais para melhor percepção dos vinhos. Já falei sobre eles aqui.
Recomendo sempre que antes de girar a taça o vinho seja sentido estaticamente. Após o giro é uma maneira de ajudar a volatizar (desprender) esses aromas do vinho. Os mais leves geralmente são mais fáceis, mais abertos e pronunciados. Vinhos mais complexos, opulentos e com estágio longo em barrica, beneficiam-se desse giro do líquido e vão se mostrando aos poucos. O girar a taça ajuda muito e funciona melhor do que colocar a garrafa toda vez num decanter. Muitas vezes só esse giro é suficiente. Aliás, esse é o próximo ritual.
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Decantar o Vinho:
Não, nem todo vinho precisa decantar. Sei que é bonito, sei que parece chique… Mas a maioria dos vinhos não foi feita para ir ao decanter. Expliquei tudinho neste post aqui.
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Guardar Deitado:
Vinho deve ser guardado deitado? Nem sempre.
As garrafas fechadas com vedante de cortiça são guardadas deitadas exatamente para manter o material vedante úmido, proporcionando micro-oxigenação ao vinho e inibindo o ressecamento do material. Se o vedante é sintético ou se a tampa for de rosca, não há necessidade alguma. Mal não faz, mas em pé elas ocupam muito menos espaço e você pode otimizar seu estoque.
Tem mais algum ritual que você segue a risca mas sem saber direito a razão? Conte pra gente.
Até a próxima coluna, Keli Bergamo.