Hoje resolvi escrever sobre o medo, primeiro por ser esta uma reação muito comum em qualquer período da vida, segundo por ser uma experiência aparentemente muito ruim para quem sente e para quem acompanha.
Primeiramente vamos conversar sobre este tal medo, que nem sempre precisa ser entendido como algo ruim, precisamos compreender que, dependendo da situação o medo protege, nos ensina a ser cautelosos diante de algumas situações. Se pensarmos nas crianças (e até nos adultos), podemos dizer que a falta de medo pode nos expor ao risco, enquanto o excesso de medo pode nos paralisar; desta maneira analisar o que provoca o medo parece ser fundamental, e o equilíbrio para lidar com ele também.
Sentir medo de ser atropelado, de ladrão ou de ser raptado parece algo bem “natural”, e exigirá dos pais de uma criança uma conversa bastante séria e importante sobre quais atitudes tomar para evitar situações que a colocarão diante deste tipo de medo e de possibilidades, sem, no entanto impedir que ela aprenda a atravessar uma rua ou que deixe de sair de casa por medo de ser roubada ou raptada. Tarefa difícil, porem essencial. Ensinar a olhar para os lados ao atravessar uma rua, ou a não conversar ou aceitar carona de estranhos faz parte daquilo que parece até obvio que os pais façam.
Uma criança pode ter medo de barulhos que escuta em casa durante a noite, que pode ser a dilatação da madeira diante do resfriamento e achar que estão invadindo a casa, dizer que não é nada muitas vezes não ajuda, pois o barulho continuará, e a fantasia dela também, assim é importante explicar a ela que a madeira faz barulho, mas caso a casa seja invadida como ela pode agir (quanto maior a criança, mais contato ela tem com noticias ligadas a este tipo de situações, então negar que pode acontecer passa a ser tarefa infrutífera), da mesma forma podemos abordar o medo de acidente ou de doença, por exemplo, sem negar que pode acontecer, já que isso ela já sabe, oferecer possibilidades de enfrentamento da situação, estaremos assim ajudando no enfrentamento dos medos (eles existem e podemos enfrentá-los).
Também existem os medos de fantasma, monstros, bichos e imagens criadas nas fantasias das crianças, normalmente são os medos das crianças menores… apenas dizer que eles (monstros, fantasmas, etc.) não existem não parece suficiente para que o medo “vá embora”, as vezes faz se necessário entrar na fantasia da criança e junto com ela enfrentar o objeto do medo. Por exemplo, se ela acredita que dentro do armário existe um monstro, abra o armário junto com ela, converse com o monstro dela, explique que ela está com medo e que ele precisa ir embora para que ela possa dormir, diga que irá trancar a porta do armário para que ele vá embora pra sempre, peça a criança para se despedir dele, para que ela diga que não gosta dele e peça que ele vá embora, na maioria das vezes isso funciona muito bem… e ainda podemos dizer que estamos ensinando a criança a falar sobre o que não gosta, “criando adultos que sabem dizer não diante de situações desconfortáveis”… (pensem sobre isso).
Ouvir a criança é fundamental antes de qualquer atitude, crianças usam linguagem simbólica, e precisamos estar atentos ao significado dos monstros e das histórias que contam, não é incomum crianças abusadas se referirem aos seus abusadores como monstros, fica a dica. Em boa parte das vezes os medos são simbólicos, apenas profissionais preparados para trabalhar com essa linguagem simbólica irão identificar o significado que a criança está atribuindo aos seus monstros…
Os medos mais comuns são: o medo de dormir sozinho, o medo do escuro, ou de ficar sozinho. Um abajur no quarto, deixar a luz do corredor acesa, os objetos transacionais (ursinho, travesseirinho, etc.) podem ajudar a diminuir o medo do escuro ou de dormir sozinho, devemos evitar deixar que a criança vá para cama dos pais, caso dormir com ela seja necessário, melhor que um dos pais vá para o quarto dela e combine que ficará ali até que ela durma, deixará o abajur aceso e voltará para seu quarto, caso ela precise poderá chamar… essa atitude ajudará a criança a lidar com o medo e evitará que ocupe a cama dos pais.
Deve se pensar também se a necessidade de dormir na cama dos pais é mesmo tão grande na criança, ou é dos pais ou de um deles para “camuflar” problemas conjugais ou sexuais…
Uma boa reflexão sobre os medos criados pelos adultos, também é necessária, são aqueles que os adultos cultivam nas crianças para evitar que façam ou não determinadas coisas… tipo: “não vá lá que o bicho vai te pegar… se fizer isso vai ter que tomar injeção…, o homem do saco vai te levar…” e assim teremos as crianças com medo de médico, de moradores de rua ou catadores de papel e/ou de bichos em geral… Este tipo de medo é “plantado” na criança e deverá ser trabalhado mediante orientações ao adulto que usa deste tipo de ameaça para controle do comportamento da criança.
Saliento que, quando o medo toma grandes proporções na vida de uma pessoa, chegando a causar desconforto físico ou impedimentos importantes, vale a pena buscar ajuda de um profissional especializado que possa ajudar a avaliar o que está acontecendo e como tratar adequadamente com os sintomas decorrentes, orientar a família e as pessoas envolvidas no cuidado com a criança.
Para conhecimento, segue abaixo, uma tabela dos medos comuns a cada idade e algumas dicas de livros infantis que trabalham com a questão do medo:
Medos comuns por idade
0 a 18 meses
Barulhos estranhos ou altos, luzes intensas, pessoas estranhas e riscos de quedas. O bebê chora ou fica irritadiço e agitado.
18 a 36 meses
Água, pessoas mascaradas (Papai Noel), escola e tudo o que for estranho à sua rotina. É importante saber que a zona de conforto do bebê está ligada à ordem.
3 a 5 anos
Fantasias assustadoras, como monstros e fantasmas. É a fase da imaginação fértil, que pode se intensificar na hora de dormir. Ela acontece por causa do desenvolvimento da massa cinzenta. Vale lembrar que a capacidade de imaginação aumenta à medida que ocorre o desenvolvimento biológico do cérebro.
A partir dos 6 anos
Medos mais vinculados à realidade, como o de ladrões e o de acidentes em geral. A família deve transmitir a malícia necessária para a criança ter segurança. Nessa hora, é importante demonstrar como agir em uma piscina ou, então, o que fazer diante do assédio de estranhos.
http://mdemulher.abril.com.br/familia/bebe/por-que-as-criancas-sentem-medo