Vinho bom é o que você gosta? Também!
Vinho bom, no entanto, é aquele que atende determinados requisitos de tipicidade (parece com o que se propõe, com a uva que lhe originou e com o lugar de onde veio), equilíbrio, dentre outros muitos requisitos.
E esses tais requisitos podem mudar com o tempo e também com o que o mercado quer, deseja… Sim, no vinho também tem “modinhas”.
E pra explicar isso vou contar a história de um senhor que teve extrema importância para o mundo dos vinhos: Robert Parker.
Parker despontou no final da década de 70 como o grande avaliador e crítico de vinhos do mundo. Tudo que ele tocava virava ouro, digamos assim… Sua predileção por vinhos potentes e amadeirados levaram o mundo a desejar vinhos que atendessem a esses requisitos e, por um bom tempo, regiões que produziam vinhos com o estilo oposto – que já vinham sofrendo os efeitos dessa mudança de predileção dos consumidores– ficaram a ver navios.
E Beaujolais foi uma dessas regiões que pagou alto o preço do que foi chamado mais adiante de parkerização dos vinhos….
Com seu estilo mais delicado e pouco estruturado, foi perdendo espaço até que seus vinhos quase estavam sendo levados a destilação. Foi então que a região, através de um grande negociante chamado Georges Dubœuf, criou uma nova categoria de vinhos para uma ação que “jovializasse” o consumo, chamasse atenção a ela e desse certo fôlego aos produtores: o Beaujolais Nouveau.
Mas o que é, onde vive, do que se alimenta o Beaujolais?
O Beaujolais tinto é elaborado com a Gamay, conhecida por originar um vinho delicado e de baixa concentração tânica.
A Gamay ocupa cerca de 99% dos vinhedos e o mísero percentual restante é ocupado por Aligoté, Chardonnay, Pinot Gris e Melon de Bourgogne. Beaujolais Blanc e Rosé são quase desconhecidos fora da região.
Os tintos tem em comum serem sempre secos, macios ou ligeiramente tânicos, frescos e aromáticos.
E o Nouveau?
Nesta tentativa de “modernizar ou jovializar” a região em uma época de pouco interesse pela mesma, iniciou-se a produção da categoria conhecida como Beaujolais Nouveau, nos quais as uvas inteiras são fermentadas pelo método de maceração carbônica, que dura de uma a duas semanas. Isso permite que o potencial aromático da uva gamay se desenvolva totalmente. O vinho vermelho rubi brilhante a azulado tem uma acidez relativamente elevada e um aroma frutado.
Pode ser comercializado a partir da terceira quinta-feira de novembro (hoje, no caso!) e pode ser bebido jovem, nos próximos meses. A nova safra é lançada com um grande festival, com uma procissão de tochas, festa e dança. Todos os anos, 60 milhões de garrafas do vinho popular mundialmente são produzidas, 50% das quais são exportadas para 200 países. Aqui no Brasil quem traz é a Mistral.
Este vinho de produção rápida tem os seus apreciadores e merece respeito, pois impulsionou a região em uma época difícil, mas os Beaujolais não se resumem a ele:
Você pode encontrar com facilidade em várias importadoras rótulos das demais categorias:
Beaujolais:
A denominação genérica está aberta a todos os viticultores, mas é usada principalmente na metade sul em cerca de 10.000 hectares de vinha.
Beaujolais Village:
Cobre cerca de 5.000 hectares de vinhedos no norte. Um total de 38 municípios têm o direito de usar o nome após Beaujolais no rótulo, dos quais dez possuem o status cru. Se for uma mistura de duas ou mais comunas, deve-se usar “Beaujolais Village”.
Beaujolais Crus:
Dez municípios na área norte têm status cru, mas ao contrário das outras denominações, isso se aplica exclusivamente aos vinhos tintos. Seus vinhedos cobrem cerca de 7.000 hectares.
São eles: Brouilly, Chénas, Chirouble , Côte-de-Brouilly, Fleurie, Juliénas, Morgon, Moulin-à-Vent, Régnié e Saint- Amour.
Nos últimos anos os vinhos da região voltaram a ser respeitados e procurados, especialmente porque os especialistas gostam de ressaltar o quanto são fáceis de harmonizar, de beber….
Aqui no site a gente já recomendou essa categoria para Ceias de Natal, para o verão…. Ele pode ser tomado mais fresco, pode ser o tinto pra tomar com peixe… Enfim… Coringão!
Independente de moda ou não, para definir o que é o SEU VINHO BOM é legal criar referências. Se você só provou um único estilo, não consegue entender o que funciona pra você, para seus pratos prediletos, para seu paladar.
Por isso, quando tiver oportunidade, se aventure, se surpreenda.
Ah! E quebre paradigmas também:
Até a próxima coluna, Keli Bergamo