Sou fã confessa de moqueca capixaba e sempre que um amigo também capixaba nos presenteia com o prato aproveito para testar novos vinhos.
Em receitas de moqueca são utilizados peixes de textura delicada, que ganham presença graças aos temperos (alho, cebola, urucum,tomate, cheiro verde e coentro). Assim, por mais que sua aparência seja “pesada”, o prato é muito leve.
A dica, portanto, é combiná-lo com espumantes (os harmonizadores universais), brancos sem madeira ou rosés, que complementam-se às texturas e sabores do prato.
Minha última tentativa contou com a ajuda de amigas e degustamos às cegas pra não termos qualquer influência dos resultados anteriores.Já harmonizei com Riesling alemães, Silvaner (alemão também), rosés da Provence e também rosés do Novo Mundo e todos causaram ótimas impressões.
Escolhemos um Alvarinho (da região dos vinhos verdes portugueses), um Albarino (a mesma uva, mas da região de Riàs Baixas, na Espanha), um Riesling Grand Cru da Alsácia e um húngaro de uma uva que até então desconhecia: Olaszrizling.
Conto agora a experiência para vocês:
Servimos de 2 a 2, primeiros o Alvarinho (Contacto 2014 de Anselmo Mendes, importado pela Decanter) e o Albarino (Licia, 2013, comprado nos Estados Unidos):
Nessa disputa a acidez mais pronunciada do Alvarinho saiu ganhando. Esse rótulo, aliás, é super interessante: Preservou o frescor típico da Alvarinho mas com um pouco mais de untuosidade e elegância proveniente dos 4 meses de amadurecimento sobre lias finas (pequenas borras que o próprio vinho deposita no fundo do tanque quando está em repouso). De cor amarelo claro, com perfumes florais bem vivos e de pêra e boa persistência em boca. O produtor Anselmo Mendes é referência em Vinhos Verdes e sempre uma boa escolha para quem busca rótulos da região.
O segundo “round” foi entre o húngaro (Attila Gere, Olaszrizling 2014, importado pela Decanter) e e o alsaciano (Clement et Serge Fend, 2011, comprado na França) e ai veio a grande surpresa: Primeiro porque ao estudar a tal uva Olaszrizling (só tente dizer esse nome despois da terceira taça), descobri que ela é a Riesling Itálica, base de nossos queridos espumantes nacionais. Nunca havia provado da mesma em vinhos tranquilos e fiquei encantada. Sua acidez latente, aliada a sutis aromas florais casou perfeitamente com o prato e, para mim, foi o melhor vinho da noite.
O Riesling, por sua vez, era mais complexo e extremamente elegante, um baita vinho…. Mas se sobressaiu à moqueca.
Apesar de tudo vale lembrar que, harmonizações a parte, vale o gosto pessoal de cada um e, claro, as boas companhias que tornam tudo – inclusive pratos e vinhos – mais harmoniosos.
Ah! Além da moqueca de badejo, servimos também moqueca de banana da terra e uma farofinha de castanhas bem apimentada.
Até a próxima coluna, Keli Bergamo.